Um carnaval que passou…

A linda jovem de vinte anos, de olhar triste e distraído, repousava displicente na cadeira à beira mar. Os últimos dias tinham sido desafiadores. Mas, ela os vencia valorosamente. O carnaval, recém brincado, tinha deixado marcas em seu corpo e em sua alma.

Aproveitando a brisa renovadora do mar, a jovem alheou-se dos sons ao redor e voltou o olhar para os seus poucos vinte anos, com muita história de vida.

Aos três anos era a princesinha do papai. Aos nove, levada pelos sonhos da mãe, tentava a carreira de modelo. Aos doze, recebia a sua primeira indicação de anticoncepcional. Aos quinze, fez o primeiro aborto. Agora, aos vinte, desiludida na relação amorosa, no Carnaval, recuperava-se da tentativa de suicídio. Sofria…

Ela é o exemplo vivo da reflexão de Krishnamurti, filósofo e educador indiano, que afirmou “não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”.

Que doença é esta que mutila, emocional e psicologicamente, crianças, jovens, adultos e idosos? Que aguça as sensações do corpo e sufoca o Espírito que ali habita?

É o vazio existencial. É o sentimento do nada que leva ao apego à matéria perecível como tábua de salvação. Sendo “o nada” inconsistente para alimentar o pensamento e o coração; para fomentar relações humanas verdadeiras, leva as suas vítimas a adotarem a lógica de descartar amigos, amores ou sua própria vida física.

Até quando esta doença corroerá as forças do Homem? Quanta medicação para o corpo será consumida para aliviar a angústia da alma? Qual é o remédio eficaz?

A consciência profunda da imortalidade da alma. Realidade intuída em todas as culturas e sintetizada de forma magistral pelo teólogo Teilhard Chardin: “Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual. Somos seres espirituais passando por uma experiência humana”.

Esta visão muda o indivíduo e, em consequência, a sociedade em que vive.   

Allan Kardec, na codificação do Espiritismo, amplia este pensamento confirmando a imortalidade do Espírito que, como sujeito de seu destino, reencarna quantas vezes forem necessárias ao seu projeto de evolução. Amparado pela Espiritualidade superior, o Espírito trabalha ao longo do tempo por humanizar-se, espiritualizar-se e ser feliz, de fato.

Nesta encarnação, a jovem de vinte anos abalou a sua saúde física e espiritual ao tentar encaixar, a grandeza de seu Espírito Imortal, na visão estreita da felicidade fixada pelo materialismo, que gera o individualismo e o consumismo – cânceres no tecido social humano.

O Carnaval, festa onde a carne-nada-vale, é palco para os casos de abusos e alienações com droga, álcool, sexo, aborto e tentativa de suicídio.

E, do ponto de vista espiritual, disto decorrem dores tão lancinantes que levarão alguns séculos para o Espírito curar-se das poucas noites de desvario. Leva à queda as almas desprevenidas.

  Na praia, no momento em que a jovem retornou de sua viagem ao próprio mundo interno, suspirou e disse a si mesma – o último carnaval ainda está em mim, mas, vai passar! Vou lutar por isso. Pense Nisto!      

Autor: Rosângela J. Soares

Quem sou eu? Um Espírito Imortal que já habitou muitos corpos, no correr dos séculos, em busca da completude. Há sessenta e cinco anos frequento a Escola Terra, na sala de aula Brasil. Aprendo as lições para bem me relacionar com o outro, seja na família consanguínea, o marido, duas filhas, um filho, dois genros, uma nora e três netos, seja na grande família humana. Pra mim, Deus é o ponto de partida de tudo o que existe, no universo/no multiverso, e Jesus é o Modelo e Guia para a humanidade terrena. E o fim de tudo? A consciência plena da Lei do Amor, ligando todos os seres.

6 comentários em “Um carnaval que passou…”

  1. Texto fabuloso. Gostei muito da construção das ideias e independente da personagem, há como fazer paralelos muito estreitos com a nossa própria caminhada.

  2. Adorei o texto, muito atual e real.
    O vazio existencial domina muitas pessoas, então considero muito importante reflexões sobre esse momento. Um abraço!

    1. O doloroso vazio existencial e as atitudes dele consequentes deixam marcas que, muitas vezes, os homens precisarão de algumas reencarnações para se reequilibrarem.

  3. Li o texto por indicação do meu amigo Felipe Campos e achei bem interessante, pois nos oportuniza reflexões sobre os perigos do carnaval e nos lembra sobre a necessidade de espiritualização.

    1. Quando olhamos a existência pela ótica da imortalidade da Alma, todas as experiências adquirem um outro sentido. E a qualidade de vida penetra o nosso cotidiano.

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